segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PEDRA DE TROPEÇO NO FACEBOOK?




Dando aquela zoiada geral no facebook, percebi que tem voo doo chegando ao mundo virtual. Sério! Tudo nesse mundo de hoje em dia parece também estar achando  nicho para fertilizar seus ovos em endereços eletrônicos, leia-se, nas redes sociais. Coisas boas, coisas ótimas, gente boa, gente ótima e , infelizmente, o oposto também.  Mas, pensando bem, desde que o mundo é mundo, para conhecer a redenção, temos que conhecer o pecado, para correr do mal temos que saber identifica-lo, não é mesmo?  Estas seriam as chamadas "pedras de tropeço" ou os "vasos de desonra" (este último, citado na Bíblia!). 
Hoje a trato como voo doo, pois parece mesmo uma daquelas bonequinhas infernais usadas para magia negra e afins. Mas um  dia, como todos nós, esta pessoa nasceu pessoa.  Esta pessoa que vou usar como exemplo (que pode ser uma, duas, várias, você escolhe e dê nome a ela, pois tenho certeza que o personagem que uso aqui, ja foi visto e identificado em inúmeras situações na vida de cada um), já chamou mamãe de mamãe e papai de papai.  Mas cresceu, de alguma maneira fez um pacto com a nocividade que lhe foi mais interessantemente oferecida pela vida e se tornou uma pedra de tropeço.  Se tornou aquela pessoa que num grupo, só traz discórdia, na família só traz separações e nas amizades, só trama enredos de dor e destruição.  
O vaso de desonra ou pedra de tropeço ( ou voo doo ) a que me refiro, não dorme no ponto. Espreita cada palavra que usamos no face book, cada comentário , cada alegria compartilhada e pensa de que maneira pode se fazer presente, com um comentário adicional destilando seu veneninho.  São ladrões de alegria, ladrões de paz.  Ela serve ao propósito a que veio ao mundo, ou seja, causar tropeços.  Por um momento, a odiamos, e desejamos que nunca tivesse colocado os pés nesta terra já tão maltratada por enganos e desenganos. No entanto, com  a chegada da maturidade, percebemos que o voodozinho ou pedra de tropeço, só serviu para que ganhássemos mais fôlego para seguir adiante. Dificilmente alguém tropeça e anda para trás, já repararam? Tropeçamos já caindo na direção a nossa frente. Quem tem a bondade e a vontade de somar no coração, sofre um tropeço, machuca um dedão, mas não perde a caminhada. E sabe o que é melhor? A pedra sorri no momento que  consegue seu intento, mas chora porque sabe que com sua maldade, só conseguiu mesmo é lhe adjudar, mesmo que involuntariamente.
O castigo do vaso de desonra é ver o vaso de honra sempre florido.  O castigo da pedra de tropeço é continuar na estrada e ver sua vítima sumir na distância , rumo a linha de chegada.  O castigo do voo doo é viver entre alfinetadas enquanto suas vítimas, costuram lindas e honradas alianças, amizades e  trajetórias.   Ser uma pedra de tropeço, um vaso de desonra ou um voo doo deve ser horrível.  Só de olhar a cara dela a gente percebe.  É pálida, tem cor de quem ja morreu. É triste, falta lhe sonhos concretizados. Falta-lhe fôlego para continuar a maldade, pois a velhice chegou.  Pobre pedra... não foi usada sequer para construir o pavimento do caminho em que foi jogada. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UM ENCONTRO COM OLACYR DE MORAES

O convite era para ser mais uma das agradáveis noites na belíssima residência de Keith e Carlos Nahim, aqui em São Paulo. Há muitos anos venho frequentando esta casa e tendo a minha também como ambiente para encontros festivos e fraternais.  Mas, confesso, não esperava que uma personalidade tão conhecida como o empresário Olacyr de Moraes, já avançado em idade, estivesse presente e com uma carga tão forte para mudar todo o ambiente.  Como sempre digo, a vida é feita de encontros e desencontros.  Não posso dizer que virei amigo de infância nem amigo futuro. Mas posso dizer que daquela noite em diante, me encontrei com eu mesmo e com tantos meninos que na minha infância, tiveram aquele olhar que nos dispensou Olacyr, à mesa de jantar.  Vamos ver se consigo traduzir para voces, o que foi este encontro.
Quando nossa bela anfitriã nos convidou a seguirmos para o salão de jantar, descemos pela bela escada de mármore branco rindo e tirando fotos, felizes por sermos todos amigos há tantos anos, para se dar ao luxo de fazer caras e bocas, caretas e brincadeiras infantis com este novo e maravilhoso instrumento chamado fotografia digital. Nossa eterna criança, ja se mostrava presente.  A glamurosa Scheila Santos discorria sobre as maravilhas do Instagram e eu me sentindo horrível por ainda estar na época do Blackberry. Douglas Maluf estreando nesta turma, nesta casa. Camile e Aramis Maia,  sempre gentis, lembrando histórias engraçadas de Olacyr, Michele nos falando sobre a incursão de Olacyr no mundo virtual, Carlos e Keith nos deixando a vontade para escolher os lugares à mesa.  O grande empresário, já considerado o "Rei da Soja" e conhecidamente multi-milionário, se limitava a sorrir, mas sem muitas palavras. Não estava exatamente calado, mas simplesmente, ali, talvez se divertindo com a barulhada que fazíamos por qualquer assunto.  Aliás, não necessariamente "qualquer assunto"! Um deles era sobre as divertidas frases que são colocadas no facebook, atribuídas à Olacyr, geralmente renegando as mulheres ao papel de simples objetos sexuais.  Olacyr sorriu e esclareceu que é tudo mito e que jamais sairia de sua boca, coisas daquele nível. Mesmo assim, levou na brincadeira e admitiu que uma hora deverá mesmo escrever ou autorizar um livro com suas verdadeiras histórias.  Nesta hora, Sheila o pediu que lembrasse de algumas para nos contar, e ele aceitou o desafio voltando ao tempo e contando uma história que comoveu a todos e principalmente ele, que nesta volta ao tempo, encheu os olhos d'água e teve que fazer uma pausa na narrativa.  Vimos todos um menino, em seu olhar. Um menino que chegou em casa  presenciou uma das mais tristes ocorrências que uma mãe, um pai e um irmãozinho podem vivenciar. A morte de um infante nos braços da mãe.  Neste momento, não havia idade, não havia dinheiro, não havia posição. Olacyr nos revelou uma criança linda, que amava sua familia, que sofria pelos seus, que nunca esqueceu o bem maior que pode ser tirado de alguém. Uma história longe dos cifrões que atormentam tantos ha tanto tempo. Nos sentimos próximos dele. Nos sentimos crianças como ele, nos sentimos filhos e irmãos.  Fiquei impressionado com a reciclagem que fiz de mim mesmo ali. Já sabia que gente interessante não tem idade. Mas ali, vi que posso seguir envelhecendo, que o menino que fui um dia, não me abandona jamais.  Não por coincidência, dias atrás, tinha visto uma palestra com Douglas Maluf sobre  a criança que fomos um dia (  "a criança que voce foi um dia, teria orgulho do adulto que você é hoje?").  Para terminar, quando perguntado se ja havia nascido rico  e como havia crescido tanto como empresário, O velho menino nos disse " Nasci com tudo que precisava, uma cabeça, duas mãos e vontade de dar certo!".  Como disse no começo, a vida é feita de encontros e desencontros. Este, sem dúvida, foi um encontro de homens e de meninos.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

XÔ, INTIMIDADE EXCESSIVA!

Nossa, que saudades! Fiquei duas semanas sem postar nada, credo... Estou ficando velho, cansado ou me metendo em coisas demais para fazer e deixando este espaço tão querido de lado hein, hein? Um pouco de tudo e tudo de nada . Sabe? "Aquelas coisas", como dizia Clodovil... (entendeu nada, né? Mas quem entendia Clodovil? rsrss...).  Vamos lá. Na pauta de hoje, comportamento. 


Em tempos de facebook, a gente tem visto muito do que conhecemos como "invasão de privacidade". Mas, claro, há de se entender que muitas vezes nós mesmos abrimos a porta para isso.  Uma foto aqui, um dizer ali, um desabafo acolá... e logo abrimos a porta à interação e o que vem com ela.  Alguém diz , embaixo de uma foto "Nossa, como você engordou!" e você fica bravíssima! Esquece que postou a foto para apreciação de seus amigos e não gosta quando a apreciação vem com tons de depreciação. Abrir intimidade, queridos, é isso.  Não adianta ficar exigindo um código de elegância das pessoas porque simplesmente elas não são ou não se sentem obrigadas a tal, no livre terreno da internet.  Hoje, o cidadão comum experimenta um pouco do que a  figura pública sente na pele, com esta super exposição no facebook ou twiter, instagram, etc.  De leitores vorazes e críticos infernais, passamos a ser vistos e criticados quando nos arriscamos a abrir essa portinha chamada intimidade.
Exite o outro lado da moeda. As pessoas esquecem que facebook é como um diário pessoal de cada um e não como uma página escrita em uma revista ou jornal, eletrônico que seja.  Nestes, impera o "politicamente correto", já no face,  é o seguinte: cada um diz o que pensa e o que gosta e se você, amigo ali aceito, concordar bem, senão cai fora.  "O adicionado de hoje, pode ser o deletado de amanhã" é o que rege tudo isso.  
Outra coisa que é facilmente confundida no facebook, através desta abertura que se dá a desconhecidos ou mesmo a relativamente conhecidos, é a gentileza da pessoa que aceitou. Isso não quer dizer que a pessoa quer ser íntima sua.  A gente adiciona alguém, agradece os elogios que ela nos posta, e em seguida, vem pedidos de emprego, de casamento, de sexo e sabe la Deus o que mais.  Isso quando não insiste em "small talk", sabe? aquele papinho que nao vai a lugar nenhum, e você teme ser grosso ao cortar a conversa? Se voce diz que ta ocupado ou que saiu, a pessoa monitora suas "atividades recentes" e percebe que na verdade, você não queria era papo com ela. Pronto, inimigo a vista. Mágoas crescendo no mundo virtual.    Acho que está na hora de começarem a criar códigos de conduta, ética, manuais de boas maneiras, sei lá, para os face-bookianos.  Os mais bem resolvidos, mandam na lata seu descontentamento com os insistentes, já os mais reservados e educados, sofrem por não saberem espantar os voodoos que entram por um simples clicar , de nossos próprios dedos. Eu por exemplo, mantenho a fleuma até a página dois. Da três em diante, ja começo a me coçar para resolver a situação. Na quarta, queridos, como dizem os antigos, já "encontrei a vó atrás do tôco", rsrs... daí em diante, salve se quem puder.  E vamos que vamos!

domingo, 14 de outubro de 2012

THE VOICE BRASIL: ALÍVIO IMEDIATO!

Quando a gente pensa que "tá tudo dominado", que a mediocridade dos programas de auditório (sempre há exceções, não se exasperem!) tomaram conta da televisão, que anda mais perdida do que cego em tiroteio, nesses tempos de viva-a-internet, nos vem à tela "The Voice Brasil".  Alívio imediato para dores de ouvido, cabeça e por incrível que pareça, até de carreiras que andavam assim-assim... Aos detalhes:



O alívio que me refiro vem no sentido de dar um basta a humilhação engraçadinha (?) sofrida por calouros em programas com foco similar, ou seja, descobrir e revelar talentos da música.  Não dá pra ignorar também, o empenho do Raul Gil todos estes anos em militar na área, aliás, área esta que ficou como uma opção secundária de audiência desde os grandes festivais de outrora.  Ponto pra ele.    Então, nos chegam os formatos americanos, com jurados debochando e humilhando participantes. Um horror! Pior, os tais jurados que  sequer tinham -ou têm- conhecimento musical. Ex panicats, ex-namoradas de não-sei-quem, ex ator de sucesso, ex alguma coisa, todos julgando talentos que projetam sua vida em cima do sonho de viver da música. Confesso que, em alguns momentos, eu, na tranquilidade do meu lar, morri de rir de algumas ditas brincadeiras, por parte dos jurados, tamanho o exoticismo do personagem escolhido para ser malhado em público.  Mas, logo cai a fixa: Afinal, qual o propósito?

"The voice Brasil" pode ser até mais um enlatado norte-americano ou europeu, mas desta vez, não importa. E sabe por que não importa? Porque quando a proposta é boa. Dane-se se vem de lá ou de cá, de cima ou de baixo do Equador.   A maneira elegante dos jurados ouvirem de costas, dando assim, ênfase a voz e suas nuances sem deixar que a aparência interfira, já é de começo, justiça sendo feita. Quando as cadeiras se viram, e os jurados "brigam" pela tutela do calouro (que nem é tão calouro assim, afinal, a maioria  é formada de  profissionais da área que ainda não tiveram seu big break na mídia), vemos o inverso sendo feito. Agindo assim, o programa passa para os participantes que alguém muito especial quer cuidar deles e não massacrá-os em busca de defeitos que justifiquem um deboche ao vivo e em cores.  Outra coisa que gosto é a elegância dos jurados em agradecer aqueles que não foram escolhidos. São tratados com o respeito que colegas de profissão merecem. 

Por fim, acho que The Voice Brasil fez bem inclusive para os participantes, que nos brindam com um toque de reality show, a percepção de como são na vida real.  Lulu Santos, inovador e um gênio da composição, agora é visto também como doce, cuidadoso nas escolhas de suas palavras e inteligente como já achávamos que o era.  Daniel, foi alçado ao grupo nobre da MPB, ao ser colocado neste time. Ainda vacilante e levemente inseguro, ele também luta, como os participantes, para se manter ali. Isso a gente percebe nas entrelinhas, na sutileza.  Já Claudinha Leite foi o arrombar de porta. É como se ela dissesse para o Brasil: "Chega de me colocarem na ante-sala do axé, como uma segunda opção à Sangalo. Sou bonita, sou fina e sou legal, querem ver?"   Já o Thiago Leifer entrou num programa que definitivamente não é sua cara. O rapaz é bom demais apresentando esportes e falando sobre esse universo. Não está fazendo feio, mas também não está brilhando. Acho até que a culpa não é dele e sim do programa em si, que é tão bom que dispensa a costurada de qualquer apresentador. Os cantores/jurados e a edição  ja estão fazendo isso.

Bom, hoje acabou a primeira parte do programa. A segunda serão as aulas em si e veremos o conteúdo profissional de cada tutor e seus pupilos. O que vimos até agora, valeu cada minuto.  Ganham os novos talentos, os velhos talentos e nós que adoramos saber que o Brasil tem vozes tão bonitas e pessoas tão educadas ao tratar os que ousam  sonhar! 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FARINHA DO MESMO SACO!

Quantas vezes já ouvimos a expressão "farinha do mesmo saco"? Inúmeras, e invariavelmente com um tom pejorativo, como se só coisa ruim fizesse parte do mesmo pacote.  Talvez outras expressões mais polidas, como "creme de la creme" consigam dar glamour a algo que é tão simples de explicar, mas, pelo sim e pelo não, fico com a primeira, que traduz exatamente o que penso sobre uma similaridade única que nos faz ouvir um chamado e entender que pertencemos àquilo, que é ali que está nosso nicho.  Hoje vou tentar explicar porque não sou bancário, metalúrgico ou enfermeiro.  Assisti  " O Artista " e me inspirei a escrever sobre essa farinha bendita que leva nós, operários do entretenimento, ao forno. 


Confesso que por alguma razão obscura (preto e branco?) me recusei a assistir esse filme quando estrelou e muito menos depois que ganhou  5  Oscars. Como eu disse, razão obscura... pode ter sido por medo de me impactar, como sabia que ia acontecer, quem sabe? Bom, fato é que hoje, em pleno feriadão, resolvi acessar o bendito menu de canais com filmes pagos e assistir, no silêncio do meu lar, a obra que conta a história de George Valentin, uma estrela do cinema mudo que vê seu mundo desabar com a chegada dos filmes falados.  Se vocês derem um google vão saber bem mais sobre o filme do que qualquer coisa que eu me atreva a dizer aqui. Portanto, vou me concentrar egoisticamente na minha dor pós parto, digo, pós filme. 

Quando vi o auge, a fama, a decadência e a redenção final , nada me falou mais profundamente do que  o amor do personagem ao voltar à ribalta.  Não é pelo dinheiro , nem pela fama, tenho certeza. Esta farinha do mesmo saco que me refiro hoje, é esta. Este recheio ou esta massa de que todos nós, que resolvemos dizer "sim" ao nosso chamado, somos feitos.    Há quem defina o artista em si , como um ser tão carregado de outras pessoas dentro de um só corpo, que precisa de muitas vidas, para continuar vivo. Vidas que leva as telas, ao teatro, à composições, à música... E há quem diga que somos todos tão especialmente carentes, que precisamos de que nos ouçam, nos observem e se possível, nos gostem, nos amem.  Vá saber...

Muitos de nós passam pelo funil e chegam ao mundo dourado do dinheiro e reconhecimento merecidos. A grande maioria, se reconhece fazendo pobres e infelizes sorrirem, inocentes chorarem, crianças sonharem.  Somos mesmo farinha do mesmo saco. Aguentamos privações, desafiamos a o tempo, a criação que nos foi dada, a insegurança que nos é apresentada. Mas somos felizes quando estamos na função. Somos menos tímidos quando a câmera nos mira, mais fortes quando a multidão nos prescruta.  As vezes temos trabalhos, as vezes não. As vezes agradamos, as vezes não. As vezes vem  o aplauso, às vezes a vaia.  E, uma hora, a luz apaga de vez.  Dá pra entender por que a Hebe quis ir até o ultimo suspiro no palco? Porque a Xuxa não aposentou ou o Roberto Carlos nunca para de cantar as mesmas músicas?  Em um momento, por mais diferentes que todos estes citados sejam, são iguais.  Somos iguais. Farinha do mesmo - e abençoado, saco.

Luz, Câmera, Ação! O show tem que contiunar.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

QUANDO CAI A ANSIEDADE...

Não sei se meu amor pela hoje chamada "melhor idade" começou com a leitura dos romances ingleses, especialmente os detetives heróis de Agatha Christie, Hercule Poirot e  Miss Marple ou quando conheci uma senhora chamada Dona Dóvis.   Dovis Hindeness era uma senhora de aproximadamente sessenta anos, brasileira, mas com todo o tipo de personagens europeus. Havia residido nos Estados Unidos, Europa, ficara viúva e casara anos mais tarde, já depois dos 50 anos, com um capitão norueguês.   Tudo em Dona Dóvis era tão internacional que me fascinava.  A conheci na Igreja que frequentávamos. Eu, devia ter uns 15 ou 16 anos e sonhava com o mundo la fora... Dona Dóvis virou minha amiga de infância. Me convidava para provar as receitas mais "estrangeiras" que alguém podia imaginar, como pancakes with syrup, waffles, brownies  e me ensinou a tomar chá, como os ingleses.  Em sua pequena sala, abarrotada de fotos preto e branco (ela com aqueles óculos "gatinha", bem anos 50), sempre me contava dos lugares lindos que eu deveria visitar ou dos livros fantásticos que eu deveria ler. Com ela, comecei a ler os romances ingleses no original, em inglês! Nossos papos, começaram a ser em inglês.  Eu contava os dias para estes nossos encontros.  Assim como nos livros, um dia o "the end" chegou e dona Dóvis sumiu. Nunca mais ouvi falar dela, nem apelando para o google...


Claro, de repente dona Dóvis tinha mesmo que desaparecer assim, de maneira sobrenatural. Não combinava nada diferente disso... Mas ficou a lição. No entanto, a ansiedade da juventude faz a gente esquecer estas coisas tão rapidamente e só voltar a elas quando nos aproximamos perigosamente do momento de vida destes mestres.  Digo "perigosamente" porque podemos olhá-lo com arrependimento de não ter saboreado sua presença, e isso é sempre um ponto para lamentação, acreditem. Nada pior do que   o que, negligentemente, não foi feito . Será por isso que Agatha Christie dizia que nunca deveríamos voltar aos lugares onde fomos felizes?  Como voltar à mesa de chá de dona Dóvis tem sido uma pergunta que me faço frequentemente. Não há como voltar no tempo, mas o tempo faz pontes. Chegar a Dona Dóvis hoje, me é muito mais fácil, porque a ansiedade foi embora. 
Hoje me emociono ao ver um filme como "Hotel Marigold" e não tenho medo do futuro e suas promessas, que enxergamos como rugas, saúde precária ou beleza poente. O que vivi até aqui é tão mais poderoso, que me sinto pleno, forte mesmo!    A ansiedade que movimentava meus músculos e meus neurônios para comprar uma casa, um carro, fazer uma carreira profissional brilhante já se foi... Essa venda que a ambição dos dias de luta nos coloca, agora caiu.    Amadurecer tomou outro significado.  Fiquei até mais bonito, acreditam?   Gente, eu consigo agora, contemplar! Essa palavra era tão...antiquada, back then.
Existe um charme tão fascinante em pessoas bem resolvidas, bem vividas, bem beijadas, bem auto-amadas, que atrai os inseguros, os doces, os dóceis, os ávidos por vida, os ávidos por exemplos...  Ah Roberto, " se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi" também entra nessa conta.  A soma é maior do que a subtração, a estrada é maior do que a linha de chegada e certamente infinitamente mais cheia de prazer, sabor e aromas do que o ponto de partida.   O que vamos ter hoje, Dona Dóvis, chocolate chip cookies? O que vai me recomendar para a leitura do fim de semana, Charles Dickens ou Jane Austem?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

VOU FALAR DAS COISAS QUE LEMBRO...

Uma pessoa é formada pelo que vem no seu DNA, pelos dons que Deus as dá, pelos ensinamentos ou falta deles, que a vida e a família o reserva e pelas referências que tem, sobretudo, na infância.  Como tive a honra de nascer em 64, antes desta parafernalha toda de Ipads, Iphones, I não-sei-o-quê , o mundo era muito mais divertido e as informações eram buscadas, não vinham até a gente. Era a aventura de descobrir personagens novos, lugares inexplorados que nos movia a imaginação.  O post de hoje, é um ode ao saudosismo sim, aos bons e velhos tempos que não voltam mais, mas que deixaram lindas e deliciosas marcas, como pretendo de agora em diante, compartilhar com vocês, nesta postagem: Ao túnel do tempo, amigos!


A ingenuidade era normal, e não uma aberração. Não líamos revistas que falavam de gangs de rua se matando ou engendrando guerras pelo tráfico de droga. Víamos o mundo, como pequenos que éramos, pelas travessuras da Luluzinha e do Bolinha, como mostra a foto acima.  Eram personagens que divertiam, e não existiam para colocar na cabeça da criança, a idéia de comprar isso ou aquilo, como vemos hoje. 



Quando a velha telefunken la de casa era ligada, primeiro se ouvia o estalo do botão ao dar inicio as operações, depois era esperar um tempinho para as válvulas aquecerem e pronto. Mamãe nos dava banho, penteava nossos cabelos ( o meu de lado, o da minha irmã, bem escovado até os ombros) e podíamos sentar no sofá da sala para ver  "Túnel do tempo", ou "Nacional Kid" ou a minha série favorita: "Viagem ao fundo do mar" . Se você é desta época, aposto que lembra bem do barulhinho do submarino...












A gente imaginava o futuro como na casa dos Jetsons, com tudo voando até nossas mãos, robôs para nos comunicar as mínimas vontades... Olha, não imaginamos assim tão fora da realidade de hoje, não é?
Enquanto comíamos Cremogema, ou éramos torturados pelas nossas zelosas mães à tomar Emulsão de Scott ou Calcigenol, nos divertíamos também ouvindo as músicas de gente grande na vitrolinha sonata, vermelha, que tinha a tampa como caixa de som... E, nela nossos primos e primas maiores, dançavam ao som destes ícones que verão abaixo:

Abba

the carpenters

A voz melodiosa de Karen Carpenter cantando Mr. Postman era um hit inigualável! Ficamos horrorizados quando soubemso de sua morte, por anorexia nervosa. Acho que foi a primeira vez que ouvimos falar de tal coisa, alguém que morria por querer ser magra. Mal sabíamos o que o futuro nos reservava a este respeito, hein? De princesas à adolescentes se torturando para ficar sílfides nas décadas seguintes...


Nada era mais divertido do que ver AS FRENÉTICAS cantando nas tarde de "Globo de ouro" ou ouvi-las na trlha sonora de DANCING DAYS, que deu o boom das discotecas no Brasil.  Ninguém mais segurou o pezinho depois de "abras suas asas, solte suas feras..." Isso sem contar nos modelitos à La Julia Mattos, que era a personagem de Sônia Braga  na novela: Meias de lurex, cabelo frisado e  viva tudo que é alegria!!!


A rede Globo de televisão fez o grande favor (de coração, sem ironias!) de criar uma programação vespertina chamada SESSÃO DA TARDE. Para nossa alegria e cultura , os filmes que passavam eram os clássicos de Hollywood, sobretudo das décadas de 50 e 60. Assim, ficamos íntimos de Marilyn Monroe, de Cary Grant, Bing Crosby, Elvis Presley e por aí vai... Que delícia!


Sansão e Dalila, com Victor Mature e Heddy Lamar...


Os Dez Mandamentos... ninguém nunca mais encarnou um Moisés tão bem quanto ele, Charlston Henton!

A Família Walton era o "must see" nos fins de tarde. Era o exemplo a ser seguido. Pais dedicados, filhos rebeldes sendo  educados e valorizando as lições aprendidas. No final de cada episódio, o bordão era  "Boa noite John Boy! Boa noite, Mary Allen!"
Adorávamos as trapalhadas de Jerry Lewis e Dean Martin. Quem não se lembra do enfermeiro amalucado que deixava a  porta da ambulância aberta e o doente cair , amarrado a uma maca, ladeira abaixo? 


Antes da revista CARAS, as que mandavam mesmo, no mundo das celebridades, eram Manchete e Fatos & Fotos. Na foto acima vemos a linda Sandra Bréa, seguramente a primeira mulher que o Brasil ouviu falar, que lutava contra a então quase desconhecida  e avassaladora Aids. Sandra foi uma atriz completa: bailarina,  dona de um sorriso largo e cheio de irreverência. Deixou saudades.

Esta zebrinha, acreditem ou não, era sinônimo de Loreria Esportiva! Deu zebra!!!!


E claro, as tvs bombavam com progamações diversas e que faziam escola. Silvio Santos vem aí, la , la , la,  la la la... Isso sem contar na Buzina da Chacrinha, que tinha aquela incrível mania de atirar bacalhau nas pessoas da platéia. Gretchen dançava seu conga conga conga para o velho guerreiro e nós ficávamos extasiados com a ousadia dela.  Os pais adoravam que adorássemos o "Sitio do Picapau Amarelo", afinal, era algo educativo, extremamente bem feito e as crianças vibravam com as aventuras daquela turma , saída da mente do até hoje mal lembrado pelos brasileiros, Monteiro Lobato. 


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O Elo perdido, Perdidos no Espaço, Terra de Gigantes, tudo isso nos enchia a mente de sonhos de aventuras mil. E tinha, é claro , o cinema de sábado, com nossos pais. Os filmes eram sempre de aventura , como "A ilha no topo do mundo" ou "Se meu fusca falasse".  Passamos a dar um valor imenso aos fusquinhas que enchiam as ruas do Brasil, depois que vimos o delicioso Herbie nas telas.


Mas sem dúvidas, a tv ainda era a maior amiga de uma criança e adolescente naqueles dias em que só restava ela, depois de brincadeiras na rua, manhãs na escola e tempo livre após os benditos "deveres de casa" que a tia da escola passava pra nos atormentar  em nosso tempo longe dela.  Assim, nos divertimos com "O homem do fundo do mar", "O incrível Hulk", "Zorro"...

casal vinte...
quem nao amou flipper?
olha o avião!!!!
ôooooooooo.... o grito do tarzan!

Perdidos no Espaço...

E assim, de repente, apareceu uma mocinha linda, angelical, que sofria horrores na tv por ser descendentes de negros. A Escrava Isaura.  Quem não se lembra do berro colérico de Leôncio gritando a escrava, ou da querida quituteira que a protegia, a malvada escrava Rosas e a redenção final nos braços de Álvaro? Aquela novela parou o Brasil. Foi reprisada várias vezes e até hoje é vista nos mais distantes cantos do planeta. Outro dia, num restaurante aqui em São Paulo , tive que me segurar para não ira até a mesa de Lucélia Santos, dar lhe um forte abraço - de agradecimento!


Lê, lê, lê, lê...

E claro, tinha as figuras emblemáticas da época. Quando meu pai parava para abastecer no posto da Shell, tinha duas razões bem claras: Uma delas, óbvio, era encher o tanque de gasolina e outra, era ganhar de brinde um elefantinho da Shell, que adorávamos. Melhor que isso era colecionar tampinhas de refrigerantes que vinham com personagens da Disney na parte de dentro.  Album de figurinhas também era um costume daqueles dias em que , quem tinha uma figura dificil de achar, era o verdadeiro rico do pedaço. Até embalagens de cigarro a gente colecionava. 

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Mulher maravilha... Linda Carter!


As panteras!

Então ficamos grandinhos. Começamos a querer ir n os lugares onde os mais velham iam.  Para nós, o recomendado eram as matinês. Assim, fomos na Papagaio disco clube e nos maravilhamos com o globo cravejado de espelhos que rodava no teto. Discotecas, Uau! Nas caixas de som, Os embalos de sábado à noite, claro.


Ouvíamos também a mágica Rita Lee com suas composições fantásticas incendiar os palcos.  "Lança Perfume", "Baila Comigo", era tudo tão romântico e deliciosamente pecador, que Rita virou o ícone que é até hoje.  Naqueles dias nossos pais diziam que ela  era uma ex Mutante. Hoje, que sabemos o significado da palavra, ou seja, do grupo que ela pertenceu, faz mas sentido. Na época achávamos mesmo que ela era uma verdadeira e irrecuperável mutante que mudava tudo, todos e a si própria!  Até hoje faz bem quando o rádio solta no ar uma das pérolas desta compositora e cantora tão especial.




Ney Matogrosso também nos parecia um mutante. Logo que surgiu rebolando e cantando num tom que homem algum havia feito, parecia que o fim do mundo tinha acabado, para nós, moralistas e criados para vivermos dentro da forma.  Mas, o mundo estava só começando, para ele e para nós. Quando começou carreira solo e lascou o hit "homem com H" debochando deliberadamente sobre questões como sexo e sua relevância, fincou seu cetro e marcou o terreno que pisava. Salve os bons e eternos talentos!